Os simbolismos e os arquétipos

Este capítulo foi retirado do livro "Lux Aeterna" de Lilith Ashtart. Obra protegida por direitos autorais sob registro MCN: CUV3M-8VP6R-3TSN4 (http://myfreecopyright.com). Para adquirir, visite o site http://www.clubedeautores.com.br/book/9050--Lux_Aeterna__Tomo_I_

Independentemente da crença em uma divindade ou apenas no simbolismo de seu mito, Lúcifer é utilizado na filosofia luciferiana como um referencial que, ao ser trabalhado, permite um desdobramento da personalidade e proporciona a convicção e direcionamento necessários para a condução de metas, fornecendo-nos discernimento perante as escolhas que a vida nos submete. Esta, justamente, é a função dos símbolos religiosos e conceitos idealizados por uma filosofia.
As primitivas tribos e civilizações se identificavam instintivamente com os arquétipos percebidos na natureza, em seus ciclos e elementos, e os transmitiam sob formas inteligíveis aos demais através de narrações de estórias, que se constituíam com o tempo em mitologias próprias. Não havia ainda um questionamento crítico acerca de tais pensamentos, sendo apenas uma tentativa de racionalizar suas experiências e sentimentos. Prioritariamente era valorizada a vivência de seu significado devido à observação de suas conseqüências, as quais contribuíam até mesmo como fator de sobrevivência perante os antagonismos que regiam tão intensa e decisivamente seu cotidiano, como vida/morte, dor/prazer, dia/noite, entre outros.
Esta percepção da influência da natureza, através de forças que fugiam do seu controle, fez com que os homens desejassem se libertar de sua impotência e compartilhar de tais poderes, dirigindo-os para seus propósitos. Deste desejo de dominar a interferência dos fenômenos naturais sobre a condição humana nasceu o animismo [do latim anima + ismo]. Segundo esta teoria, tudo possui sua própria anima, ou alma, seja um animal, uma árvore, uma montanha, a Lua, o rio ou o próprio ser humano.
Cada anima possui sua própria autoridade e virtude espiritual. Da mesma forma que podia se comportar de forma benéfica, também era temida por sua capacidade de infligir malefícios sobre os seres. Para muitos povos, a alma não era considerada como uma unidade, dividindo uma “participação mística”, como definiu o etnólogo Lucien Lévy-Bruhn, com outro ser no qual o indivíduo se identificava, acabando por obter sua cumplicidade e qualidades. Algumas tribos acreditavam assimilar as virtudes de outro organismo através do consumo deste, o que explicava, por exemplo, o canibalismo de inimigos, e mesmo o uso de determinados animais como alimento em festividades específicas.
A utilização de peles, penas, vestimentas e pinturas cerimoniais possuem o mesmo significado. Por meio destes estímulos externos, o indivíduo se identifica psiquicamente com o animal ou arquétipo em questão, convencendo-se de ser este, e com isso incorporando suas forças.
O totemismo das sociedades tribais primitivas surgiu deste princípio. Nele, o animal ou planta escolhida era visto como um protetor, companheiro, progenitor e guia do grupo ou do indivíduo isoladamente, devido a seu parentesco místico. Ao mesmo tempo adorado, temido e respeitado, o totem não poderia ser caçado ou tocado por aqueles sob sua proteção, nem utilizado como alimento, a não ser em cerimônias rituais consagradas.
Assim, o xamanismo se utiliza de plantas e animais de poder para manifestar suas respectivas atribuições e poderes arquetípicos ocultos, mas presentes naquele que consegue se conectar com tal consciência natural pela qual foi escolhido.
O totem sagrado é herdado pelos descendentes do clã, e por serem considerados assim como irmãos, casamentos entre membros de clãs diferentes da mesma sociedade eram necessários. Isso permitia que os genes fossem sendo permutados viabilizando uma maior taxa de recombinação gênica e diferenças entre os descendentes, biologicamente necessárias para a evolução através da seleção natural. Embora mistificado em concepções morais baseadas em sua crença, é notável como a sabedoria antiga englobava através da simples observação atenta da natureza fatos hoje explicados cientificamente, o que comprova que ambos podem andar juntos e cooperarem um com o outro, desde que cada um tenha suas particularidades e limites respeitados.
O totemismo também contribuiu para a atribuição de diferentes funções a cada clã da sociedade, contribuindo com uma sistematização da sociedade e do próprio mundo para a humanidade.
A divindade para os animistas não era considerada como um ser personificado, e sim uma potência poderosa o suficiente para inflar vida e energia em cada manifestação terrena. Assim, o sagrado é entranhado na vida real, mesmo não conseguindo ser completamente compreendido. Como conseqüência do culto à natureza se inicia o panteísmo, que identifica deus com tudo o que existe, inclusive com o ser humano, sendo seguido pelo politeísmo e sua adoração da infinidade de deuses criados. Segundo o antropólogo Edward B. Taylor, o animismo foi o grande passo evolutivo para o pensamento religioso, pois nele o homem percebe intuitivamente a grandeza do universo e da força que foi responsável por sua criação.
Provavelmente o conceito de alma surgiu na cultura primitiva devido a imagens oníricas de entes falecidos, alucinações causadas por intoxicações e o próprio enigma da morte, permitindo a aceitação de uma parte imaterial do ser, que poderia reencarnar em qualquer objeto ou organismo, sem se perder. Esta crença em uma parte imortal que reside em todo ser humano consequentemente deu origem à ideia de vida após a morte, predominante nas diversas culturas ao redor do globo.
Os egípcios acreditavam que eram constituídos de nove partes: um corpo físico, que permitia sua existência nesta vida; uma sombra que partia assim que o corpo físico morria, mas que poderia ser trazida de volta por cerimônias mágicas específicas; um duplo, chamado ka, que habitava junto ao seu corpo físico na tumba após a morte, e que era visitado pela sua alma neste local, com a qual dividia as oferendas fúnebres que eram ofertadas anualmente; um coração; um espírito, denominado khu, que mais tarde teria sido identificado com o ka, presente nos sepulcros junto aos corpos mumificados; uma força; um nome e um corpo espiritual.
As oferendas de comidas, bebidas, flores e incensos aos mortos teriam como função manter este duplo ou espírito perto do corpo do ente falecido, já que supria suas necessidades pós-morte. Se isso não fosse feito, o “fantasma” sairia vagando para longe de seu local de descanso a procura de tais alimentos por si só, e aceitaria qualquer um que fosse encontrado pelo caminho.
Encontramos o mesmo ritual em vários povos de diversas regiões e culturas. São frequentemente encontrados túmulos em que o indivíduo era enterrado com armas, animais de estimação, pertences e outros objetos que iriam suprir suas necessidades na outra vida, assim como havia acontecido nesta.
Inicia-se então o culto aos mortos e antepassados. Os antepassados forneceriam a seus familiares acesso a poderes sobrenaturais, proteção e sabedoria. São elos entre o mundo dos espíritos e aqueles que estão sob seus cuidados, para que possam continuar a perpetuar sua estirpe sobre a Terra com todas as qualidades herdadas, e para que novas sejam desenvolvidas. Neles estão contidos os valores, as responsabilidades e as virtudes que devem servir de guia para o caminho de cada nova geração.
Algumas correntes de pensamento defendem a ideia de que possuímos guardadas em nosso subconsciente experiências não só de nossa vida atual, mas também de nossos pais e antepassados mais distantes, as quais recebemos através da hereditariedade. O culto aos antepassados teria como uma de suas funções colocar o indivíduo em contato com esta sabedoria herdada para, através de sua aplicação e experimentação, manifestar suas qualidades intrínsecas e desenvolvê-las durante sua vida.
A maior dificuldade em compreender e vivenciar atualmente a sabedoria antiga exatamente do modo como nossos antepassados o fizeram reside no fato de nossa lógica e abstração das ideias não permitirem-nos a conexão com tais perfis psicológicos através dos quais ela foi construída. Isso, porém, não é motivo para classificá-la como inútil. É só analisar atentamente para percebermos o quanto ela está embutida e influencia nosso modo de viver, porém de uma forma adaptada ao homem moderno. Assim como o homem se transforma, suas filosofias também adquirem roupagens novas, e necessitam desta maneira de novas compreensões para serem atingidas. A chave para atingir tais conhecimentos está nesta constante permuta entre o novo e a tradição, unindo seus métodos para um resultado comum. É um equívoco abandonar a sabedoria tradicional, construída através do eterno questionamento humano sobre o universo e sobre si mesmo, dos conhecimentos obtidos pelas experiências vividas por tantas gerações, assim como o seria se limitar à ela sem colocar alguma parcela individual de contribuição, trazendo-a para o campo pessoal.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Luciferianismo

Lúcifer e a Demonologia