Denominações Luciferianas

Este capítulo foi retirado do livro "Lux Aeterna" de Lilith Ashtart. Obra protegida por direitos autorais sob registro MCN: CUV3M-8VP6R-3TSN4 (http://myfreecopyright.com). Para adquirir, visite o site http://www.clubedeautores.com.br/book/9050--Lux_Aeterna__Tomo_I_



O Luciferianismo e o Teísmo

Dentro do luciferianismo teísta encontramos a crença na existência de deuses, seja ela politeísta ou henoteísta. A filosofia monoteísta como utilizada classicamente nas religiões dificilmente poderia ser encontrada aqui, pois determina o cumprimento de normas rígidas sob forma de mandamentos divinos que direcionam a conduta dos fiéis, privando-os de questionarem-se sobre tais ações. Havendo um único deus, nega-se a divindade latente às suas então denominadas criaturas, inferiores e servis. Somado a isso ainda pode haver a concepção de predestinação e salvação externa ao indivíduo, o que lhe dispensa qualquer esforço, já que a vontade final de deus é que será cumprida. Suas particularidades são reprimidas ao englobá-los em um grupo homogêneo para o qual é determinado um código moral a seguir, o que contradiz a alma da filosofia luciferiana, que se encontra no progresso do espírito humano, sendo o final desta jornada o alcance da unidade indivisível de homem e Deus, condição anterior e eterna.
Ao contrário do que se poderia pensar, então, não há um culto a Lúcifer como a maioria das religiões cultua seus respectivos deuses. Ele não é aceito como um deus acima dos homens, e por isso inalcançável a estes, mas como um deus do qual carregamos a essência dentro de nós. Lúcifer antes de tudo é cultuado no próprio adorador, que descobre a própria divindade em si mesmo.
Outro fator importante é que, embora Lúcifer seja o nome concedido a esta força criadora, os luciferianos sabem que em verdade ela não possui nome e que qualquer aspecto que nós possamos atribuir a ela corresponde apenas em partes como conseguimos concebê-la através de nossa limitada racionalidade e percepção humana, o que não reflete o que é em sua realidade, pois este conhecimento ainda é inacessível em nossa escala evolutiva. Mas que, ainda assim, é um pequeno vislumbre que possuímos para ser utilizado como referencial em nossas buscas neste plano, que é no qual habitamos e devemos nos focar em atingir o potencial máximo aqui possível.
Os luciferianos teístas aceitam a revelação de entidades metafísicas a indivíduos que teriam como missão registrá-las e passá-las através de textos e instruções auxiliares aos seus semelhantes para assisti-los em sua evolução.
Dentro do teísmo podemos encontrar conceitos mais restritos e definidos da relação deus/universo expostos em religiões como o panenteísmo que defende que, apesar de tudo estar contido em deus (ou nos deuses, quando em identificação com o politeísmo) sendo parte dele, deus transcende a toda a criação. São aqueles que acreditam no "Deus dos inumeráveis números, que cria os próprios membros, que são os deuses", porém, sem perder sua unidade.
Em oposição a esta ideia se encontra o panteísmo, que identifica o universo exatamente com a divindade, que se encontra em tudo que existe. Algumas culturas politeístas abordam este conceito dividindo o Universo em aspectos individualizados atribuídos para cada divindade, que representaria a manifestação de um elemento ou força natural. Aqui não há a crença em um criador isolado, já que tudo é manifestação divina, autoconsciente e responsável por si mesma.

 O Luciferianismo e o Deísmo

É uma postura filosófica religiosa que admite Lúcifer como divindade, porém recusa qualquer revelação divina encontrada em livros sagrados escritos ou recebidos por humanos em virtude de suas condições questionáveis e subjetivas, já que tal registro estaria sob a influência da interpretação do indivíduo que a recebeu, sendo apenas válida a ele. Não há verdade absoluta para o deísta. Ele é um livre pensador que constrói seus valores pessoais através do raciocínio lógico e não pela imposição de alguma autoridade.
Sem um livro sagrado, os deístas desprezam qualquer religião fundamentalista e organizada, crendo que apenas a razão é capaz de nos assegurar a existência de uma força superior. Sua realidade poderia ser constatada, visto isso, nas leis naturais do Universo e sua influência sobre nós, estudadas pela ciência. Por isso é defendida por este segmento de modo tão intenso a união entre religião e ciência.
Nesta visão Lúcifer é considerado muitas vezes como a própria fonte de energia ilimitada responsável pela criação, sem, contudo, exercer qualquer tipo de influência sobre ela.
O deísmo teve seu florescimento principalmente no Iluminismo, e deu origem à correntes religiosas sincréticas como o pandeísmo (deísmo + panteísmo) e o panendeísmo (deísmo + panenteísmo).
A filosofia de Plotino pode ser bem colocada aqui, já que segundo ela o mundo emana de um deus primal (Lúcifer), através de graus e a Ele se eleva e retorna, pois acredita que sendo uma emanação de Lúcifer, se torna UM com Ele, sem nenhuma intervenção divina, já que deus teria apenas criado o mundo e dado a todos os seres as capacidades necessárias para sobreviverem e evoluírem por si mesmas.
Os rituais são de grande importância para os luciferianos em geral, independente de sua denominação. Isso porque, como será ressaltada em capítulos futuros, a finalidade ritual é adentrar estados psíquicos específicos e muitas vezes dificilmente experimentados, independente do arquétipo utilizado ser particularmente aceito apenas como uma idéia ou não. É através dele que o praticante experimenta de forma mais profunda este contato entre ele e o divino interior, vislumbrando o que ele mesmo um dia será através de suas buscas.

 O Luciferianismo e o Agnosticismo

O luciferianismo agnóstico é aquele que não crê que os deuses possam ter provada ou negada sua existência, acreditando este ser um conhecimento incognoscível à capacidade de entendimento humana, e por este motivo, ser um problema insolúvel.
É totalmente errôneo atribuí-lo como um sinônimo de ateísmo ou simples falta de crença. O agnosticismo apresenta em verdade uma postura intermediária entre o ateísmo e o teísmo. O termo deriva do grego agnôstos (desconhecido), demonstrando que não há nenhuma ligação quanto à inexistência, mas sim à recusa de se pronunciar sobre a realidade ou não de uma existência divina.
A diferença entre os agnósticos fideístas e os agnósticos ateístas reside somente na questão de se ter fé ou não nesta força divina, pois ambos admitem não terem provas de sua realidade ou ficção.
Deste modo, o luciferiano agnóstico reconhece a limitude da aparência dos fenômenos como captados pelos sentidos humanos e não se permite aprisionar na fuga para uma realidade desconhecida e, portanto, duvidosa, que apenas viria a empobrecer seu autoconhecimento, este sim possível de se obter desde que realmente desejado e perseguido. Esta finitude humana impediria a descoberta do Cosmos em sua totalidade, deixando que informações talvez necessárias não fossem adquiridas.
Immanuel Kant, uma das inspirações para o surgimento do agnosticismo, afirmava que não era possível o conhecimento de Deus, mas que a idéia de sua existência era algo prático para a humanidade.

 O Luciferianismo e o Ateísmo

Os luciferianos ateus são aqueles que não crêem na existência de deuses, negando o teísmo em suas variadas formas. Não há crença em um deus primal, sendo o homem visto como seu único deus, seu próprio princípio e fim, sendo Lúcifer visto apenas como um arquétipo.
É uma procura pelo verdadeiro "self", sem se utilizar a idéia de alguma divindade por detrás dele, contendo aspectos extremamente humanistas. A procura pela sabedoria neste caso também é com o intuito de se tornar um deus, porém no sentido de se tornar algo além do comum, seu próprio Senhor através do conhecimento de si mesmo. A idéia de continuação de uma vida após a morte não se encontra em uma suposta outra dimensão, e sim na imortalidade de suas obras e atos.
Não havendo a crença em algo além do aqui e agora, os rituais realizados pelos ateus tendem a se concentrar apenas no princípio do treinamento da mente e do conhecimento do inconsciente, fundamentando-os nos métodos da psicologia. A ritualística é, assim, utilizada apenas para este propósito em situações especiais que poderiam requerê-la.
Nietzche, uma de suas principais influências, afirma que a criação de Deus pelo homem ocorreu para compensar sua miséria, fornecendo um escape do mundo real no qual ela se encontra. Sendo assim, a humanidade incorporaria em si todos os vícios e fraquezas, enquanto que o lado virtuoso e potente seria atribuído a Deus, atraindo os homens a aspirá-lo e repudiarem a si mesmos.
O cristianismo foi por ele intitulado como a maior das blasfêmias, uma doença mortal para o espírito humano, o afastando da vida como condição de salvação da alma. Por isso a aspiração por uma humanidade nova, formada por super-homens, indivíduos que são ao mesmo tempo o salvador e aquele que é salvo. Em suas palavras: “De fato, nós filósofos e “espíritos livres” sentimo-nos, à notícia de que “o velho Deus está morto”, como que iluminados pelos raios de uma nova aurora”.
No luciferianismo, independentemente de sua influência filosófica e/ou religiosa, Lúcifer jamais é interpretado como sendo a personificação absoluta do mal. Tal visão cairia necessariamente na aceitação e validação do dogma cristão com suas alegorias sobre a existência de um salvador externo ao próprio indivíduo e da repreensão de escolhas devido a uma dicotomia moralmente estabelecida. Ele é aceito como a representação da totalidade. O que são os opostos senão complementos de si mesmos? Por que repudiar um e adorar a outro?
Talvez os opostos mais polêmicos sejam o bem e o mal, devido à grande ênfase dada a estas forças por vários sistemas religiosos. O dualismo é a maior prova da ignorância dos sistemas monoteístas, onde há conflito entre a Luz e as Trevas, entre a carne e o espírito, onde o triunfo do deus do Bem só ocorrerá após a eliminação do mal. Esqueçamos o conflito entre estas duas forças, tão amplamente pregado por diversas filosofias. Pensemos ao invés deste conflito em uma harmonia, que traga o equilíbrio: estas forças existem e podem exercer influência sobre nós apenas até serem confrontadas e conseguirmos transcendê-las. O bem e o mal são dois aspectos de um só ato; estão presentes dentro de cada um de nós e em toda a natureza. As polaridades antes de se chocar, se atraem, acabando por se completar e levar ao equilíbrio, e é aí que está sua importância. O homem não pode evoluir praticando apenas o bem, assim como praticando apenas o mal. Isto porque o bem e o mal são relativos, conceitos que mudam no tempo, em diferentes ocasiões e até mesmo de filosofia para filosofia. Só conseguiremos reconhecê-los ao vivenciá-los. Nunca devemos nos esquecer que todos somos seres únicos nesta esfera causal, assim como nas próximas até atingirmos a esfera do equilíbrio e plenitude, e por isso possuímos experiências, pensamentos, percepções e concepções únicas também. Afinal "todo homem e toda mulher é uma estrela", e todas as estrelas juntas formam apenas um ser maior, o Cosmos, ou o próprio princípio criativo.

Comentários

  1. Parabéns pelo artigo Lilith Ashtart, que os Deuses possam sempre iluminar sua mente, sua alma e seu corpo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Luciferianismo

Lúcifer e a Demonologia