As diferentes faces da provação

por Lilith Ashtart
Nov 18, '05 5:08 PM


Uma vez me foi dito que os piores obstáculos de nossa vida não são aqueles que vêm se mostrando aterradores, em formatos monstruosos e disformes, mas aqueles que se apresentam de forma doce e terna, aparentemente incapazes de serem nocivos a alguém.
Sábias e verdadeiras palavras!
É natural desejar livrar-se do que te incomoda, te traz desprazeres e angústias. É contra este tipo de obstáculo que tendemos a colocar todas nossas forças e artimanhas para superá-lo. Porém, ao fazermos isso, estamos nos concentrando em apenas um inimigo, esquecendo-nos de tantas outras batalhas ocorrendo ao nosso redor e da qual nem nos damos conta.
Angustiante é desejar manter-se afastado, seja fisicamente, sentimentalmente ou espiritualmente, do que se ama, se deseja, do que nos seduz... e é devido a estas características que o reconhecimento destes obstáculos se torna ainda mais difícil. É convidativo envolver-se pelos sedosos laços de seus encantos. Porém, embora de forma sutil, quase imperceptível, seus efeitos estarão a acumular-se, e em longo prazo tendem a ser completamente aniquiladores. Estes mesmos laços que até então envolvem nosso corpo oferecendo-o conforto e suavidade são os mesmos que nos sufocarão quando menos esperarmos.
É necessário discernimento para perceber que aquela bela face é uma máscara, e que por detrás dela se encontra uma expressão tão aterradora quanto a dos fantasmas de nosso pior pesadelo. É neste momento que realmente colocamos em prova nossas aspirações, pois não somos testados apenas em força e vontade. Somos obrigados a estabelecer prioridades, já que estaremos diante de dois caminhos que com certeza não desejaríamos que se bifurcassem, mas que não podem continuar juntos por levarem a destinos completamente diferentes... Muitos optam por contornar este obstáculo de forma que são obrigados a andar por ambos os caminhos conforme sua necessidade temporária. O problema é que esquecem-se que por mais que ambos os caminhos possam intercruzar-se durante uma boa parte da jornada, seu fim não é o mesmo, e que em algum momento se deparará novamente com a escolha entre um dos destinos, estando ainda mais confuso e fraco do que inicialmente, pelos tantos contornos irregulares que percorreu entre ambos.
É neste momento que muitos caem diante dos ordálios.
Não percebem que contornar um obstáculo de nada lhes adianta, a não ser adiar um pouco mais o fim de sua jornada. Todo obstáculo deve ser transposto de forma definitiva, para que caso ele apareça novamente mais tarde, não fiquemos sem ação, mas que diante de nosso conhecimento prévio seja obrigado a retirar-se de nossa passagem. Toda escolha nos traz um resultado com o qual aprendemos algo, seja ele qual for. Mesmo que momentaneamente ela pareça nos deixar em situações “difíceis”, creio que sua compreensão futura apague todos os aparentes “males” iniciais com os quais nos deparamos, sendo estes substituídos por novas virtudes adquiridas por esforço pessoal.
O que em nenhum momento deve existir são dúvidas: seja qual for a escolha ela deve refletir aquilo que é realmente almejado, já que raramente se encontrará um retorno. Todos devem ter sempre em mente sua real meta. Por isso devemos ter tanto cuidado com as nossas paixões não dominadas. Elas nos colocam em um mundo ilusório do qual não percebemos fazer parte, tornando-o real. Quando nos percebemos escravizados por elas, porém, já é tarde demais: ou acabamos por nos entregar de vez e nos abdicamos ou o sonho torna-se pesadelo e dele não conseguimos mais acordar.
Não venho através destas palavras negar nossas paixões mundanas, dizer que devemos reprimí-las e nos afastarmos delas. Se fizéssemos isso cairíamos no mesmo erro que acomete a maioria das religiões: estaríamos negando parte de nós mesmos e sua incompreensão nos traria angústias e sofrimentos. O que devemos é se tornar senhores destes sentimentos que nos pertencem, para que então possamos ser capazes de dominá-los e os utilizarmos conforme nossa vontade.
Que as faces mais terríveis sejam obrigadas a servir-nos irradiando pura beleza, pois assim podemos tranformar todas as coisas ao nosso redor, conforme nossa vontade, para nosso desfrute e prazer...

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